Aprovada nacionalidade portuguesa para descendentes de judeus sefarditas

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22-04-2013

A lei aprovada no dia 12 de Abril na Assembleia da República, que permite a atribuição da nacionalidade portuguesa aos descendentes dos judeus expulsos de Portugal no século XVI é um gesto que faz as pazes com esta comunidade. A opinião é do rabino Luciano Mordekhai Lopes, um membro activo deste grupo de judeus que mantém uma forte ligação emocional a Portugal e que actualmente vive nos Estados Unidos.

“Acho que não se pode apagar o que se fez no passado mas pode-se consertar coisas para o futuro. O povo português, historicamente, nunca foi anti-semita. Historicamente, tirando o período da inquisição, não cultivou o anti-semitismo. Por isso a meu ver este gesto, sim, fecha uma página da história, que não pode ser apagada, mas a vida segue.”


“Os sefarditas têm muito isto, não tendem a lamentar-se, mas sim lembrar-se das coisas que se passaram e as lembranças boas da vida na Península Ibérica foram o que ficou para os sefarditas, muito mais do que as atrocidades no período inquisitorial”, conclui o rabino nascido e criado no Brasil.

O termo sefardita refere-se genericamente aos judeus oriundos da Península Ibérica. Após a expulsão de Espanha e depois de Portugal, esta comunidade espalhou-se pelo então Império Otomano e pela África do Norte. Um núcleo significativo foi para a Holanda, onde mantiveram as suas tradições, distintas dos costumes dos judeus ashkenazi, como são conhecidos os oriundos da Europa Central.

Uma das principais sinagogas em Amesterdão é a “Sinagoga Portuguesa” mas a ligação da comunidade a Portugal é bem mais funda, explica o rabino Luciano Mordekhai Lopes: “Até hoje os judeus portugueses na Holanda, apesar de não falarem português e de 90% da comunidade ter sido exterminada durante a Segunda Guerra, mantêm palavras em português no ritual. Quando se chama alguém para ir ler o Livro da Lei a pessoa é chamada em português”.

É usual estes judeus manterem os apelidos portugueses e alguns passam ainda, de geração em geração, as chaves das casas de onde foram expulsos. Até com a gastronomia, um aspecto central na vida judaica, há ligações: “No ano novo é tradicional comer-se bacalhau. A questão cultural é muito arreigada e os judeus portugueses sempre se referem a si mesmos como judeus da nação portuguesa”.

Treze anos “no deserto”
No caso de Luciano Lopes a ligação é mais que comunitária, é também muito pessoal. Já visitou Portugal várias vezes e apaixonou-se pela “sociedade sadia”, sonhando poder vir a estabelecer-se na terra dos seus antepassados e criar cá as suas filhas. Isso levou-o a tentar saber se seria possível reclamar nacionalidade portuguesa. Há cerca de 13 anos começou a perguntar a diplomatas locais, escreveu ao Governo, mas as respostas eram sempre vagas: “Não era má vontade, simplesmente as pessoas não sabiam o que responder.”

Mas o rabino não desistiu e acabou por travar conhecimento com o deputado José Ribeiro e Castro o que permitiu reunir um grupo transversal de políticos e pessoas de organizações cívicas que inclui nomes como Maria de Belém e Carlos Zorrinho, do PS, e Mendo Castro Henriques e Francisco Cunha Rego, do Instituto de Democracia Portuguesa. Os projectos de lei avançaram e, no dia 12 de Abril, a proposta foi aprovada.

Para a família do rabino Luciano foram momentos de grande ansiedade: “Acordámos bastante cedo e ficámos a acompanhar as votações no Canal Parlamento. Assim que saiu a notícia comemorámos muito. A minha esposa chorou bastante. Foi uma notícia grandemente recebida, o meu primo em Israel ficou muito feliz e outros judeus sefarditas também”.

Resta agora acertar os detalhes da lei, para definir exactamente quem é que pode reclamar a nacionalidade e em que condições, e falta também saber até que ponto a medida será mais que simbólica. O rabino estima que pelo menos 50 pessoas que conhece pessoalmente queiram tirar proveito da lei, algumas apenas por razões de nostalgia, mas que há outros grupos espalhados pelo mundo que poderão estar interessados.

 

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